Lula não é Chaves. . .
Moisés Pereira
Porto Alegre
Em julho de 2002 viajava de automóvel de Pelotas a Montevidéu em companhia do meu amigo Pedro Curi. Lembro que fizemos uma parada em “33” (Treinta e três) como falam os orientais, uma das pequenas cidades do interior do Uruguai, para um lanche rápido, “um cortado com media luna” que nada mais é que um café, leite e um croissant para os adeptos do galicismo.
Eis que o assunto na América era a possível eleição de Lula então líder das pesquisas o que causava um frisson nas rodas burguesas conservadoras.
Fomos abordados por pessoas simples da cidade histórica uruguaia que alarmados pela ascensão de Lula faziam a ilação lógica comparando-o a Hugo Chaves o polêmico líder da Venezuela. A América com Lula e Chaves no poder será incendiada pela esquerda e a baderna imperará.
Pedro Curi, que politicamente é sempre da situação, no Brasil de Pelotas, fez uma piada com os orientais e eu tentava convencê-los de que Lula não repetiria Chaves e, mais do que isso, não poderia ser pior do que os tucanos que dirigiam nosso país, até porque já tinha assinado a Carta aos brasileiros desistindo de ser revolucionário e comprometendo-se com a governabilidade acendendo velas a Deus e ao diabo.
Lembrei deste fato hoje quando li que Hugo Chaves institucionalizou o apagão na Venezuela delimitando o horário de utilização de energia pelas empresas venezuelanas depois de sugerir uma lanterna para ir ao banheiro à noite e a suspensão de cantorias na hora do banho. A ironia, o incendiário promovendo apagão. Lula não é Chaves. . .
Pois a desconfiança dos uruguaios de que juntos incendiariam a América terminou em apagões cá e lá. O apagão de semanas atrás foi mais uma marolinha na onda de otimismo e vento em popa que norteia o governo Lulista e o de lá é mais uma das medidas polêmicas de Chaves que, mesmo sem entrar no mérito da medida, acumula singularidades autoritárias que o transformam em exemplo de caudilho fora de moda na política americana.
Dizer que Lula não é Chaves é pouco para referir-se ao presidente que atinge popularidade inédita para um dirigente americano, o Le Monde o indica como “homem do ano”, e Obama diz que êle é o Cara. Não quero defender o governo Lula, de muitos acertos e também de erros imperdoáveis, especialmente nas ligações perigosas com os políticos fracassados e corruptos da pior espécie que teimam em manchar a ética nesse país.
Apenas constato um fenômeno inegável que transformou este retirante nordestino nessa personalidade mundial. Minha psiquiatra, cujo nome não cito, por razões óbvias, vaticina que Lula, deixando a presidência vai ser autoridade mundial, dirigente da ONU por exemplo.
De Lula não duvido nada, o único que prevejo que será aclamado nosso presidente em 2014, já que agora a Constituição não permite, enquanto isso esperemos por Serra, Dilma, Marina, Ciro, ou Heloisa. . . . O nome não importa, quero ver é repetir Lula, que não é Chaves. . .
RODAPÉ - Se me permite, meu preclaro Moisés, discordo de sua confiança para 2014. A volta de Lula só se dará se Zé Serra estiver no Palácio - o seu governo recomendará o retorno. Se for Dilma, ela não levantará da cadeira antes dos oito aninhos constitucionais a que terá direito. Lula vai ter que esperar. Só não aposto isso com você, porque o jogo no Brasil "é pior do que a prostituição infantil". Mas me comprometo a pagar uma apostinha nas Loterias da Caixa.