Volto à matéria da pesquisa Datafolha de credibilidade pessoal. É uma questão de refluxo. Há coisas que dão engulho.
A troco de quê não se sabe, mas o Instituto Datafolha quis saber e fazer saber quem era e quem não era, dentre as pessoas não-comuns, a mais confiável do Brasil.
Bancando o dono da verdade, o Datafolha elaborou uma relação de 27 brasileiros que o próprio instituto considera notáveis. O resto do Brasil, para esse tipo de perguntadores, não merece maiores atenções.
A pesquisa(?) reduziu a densidade demográfica do Brasil de 190 milhões para exclusivos 27 habitantes. Personalidade é uma coisa; pessoa é outra.
A enquete saiu melhor que a encomenda. De zero a 10, os mais de 11 mil entrevistados, deram média 7,9 para Lula da Silva - o presidente de maior exposição na mídia através dos tempos. Lula é, portanto, o brasileiro mais confiável.
Nenhuma surpresa. Quem é observador atento das pesquisas que se realizam sob o patrocínio do Brasil, já sabia que não poderia dar em nada que não fosse isso mesmo. Lula é sim, confiável. Você até compraria dele um carro usado. Confie nisso.
Já no outro lado da expectativa, surgem os donos das piores médias. Dentre os cinco notáveis de pior prestígio e maior desconfiança está o ínclito e intocável presidente do Senado, Zé Sarney.
Inconformado ele ainda vai saber um dia, como e porque perdeu a última posição para Edir Macedo, aquele que, dentre outras coisas, é bispo da Universal. Este, por sua vez, vai tirar satisfações de Fernandinho Beira-Collor, pela promíscua proximidade.
O levantamento foi feito de 14 a 18 de dezembro. Por quê, também ninguém sabe. Quantos bolsa-familiares foram entrevistados, quantos petistas, quantos tucanos, quantos democratas, quantos trabalhadores sem terra, quantos doentes do cérebro e dos nervos, ninguém sabe nem quer saber.
Pelo brilhante trabalho datafolheano, Lula é seguido de perto por William Bonner que alcançou nota 7,78 - talvez porque apareça bem menos na TV do que o primeiro colocado,ou até porque seja um excelente leitor das notícias em telepromter sobre as quais não emite nenhuma opinião.
Logo depois, vem um trio de cantores.
O melhor deles, para o Datafolha de dezembro do ano passado, com média 7,62, é Marcelo Rossi que, nas horas vagas é até padre carismático; ele ultrapassou o calhambeque Roberto Carlos que mereceu média 7,60, um pouco mais alta que a nota de Ivete Sangalo que chegou a 7,35, talvez porque estivesse grávida.
Garantem seus mentores que a margem de lucro - como diria Ulysses Guimarães - da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
O estudo(!?) mostra que - em matéria palaciana - as cinco piores médias foram dadas a quatro ex-presidentes da ainda nossa República: FHC, Itamar - lembre-se, ele foi presidente! - Sarney e Beira-Collor, este o último dos últimos, tendo Sarney em suas pegadas.
Dizem os doutos indagadores populares que, Collor e Sarney têm em comum entre si os diversos escândalos que andaram rondando suas administrações. Coisa pra lá de esquisita...
Como de hábito acontecem esquisitices nas pesquisas feitas sob encomenda no Brasil Da Silva, esta não fugiu à regra: os escândalos derrubaram as imagens de Collor e Sarney, mas pelo visto projetaram o governo Lula. Deixa a nítida impressão até de que Lula é o mais confiável justamente por isso. Confie nisso.
Em assim sendo - petezando o linguajar - nuncanessepaís a banalização do indecoroso consolidou com tamanha potência a popularidade de uma "pessoa não comum".
No que diz respeito - se respeito é possível em consultas caboclas - aos anunciados pré-candidatos à sucessão de Lula, o governador de São Paulo, tucano José Serra é o mais bem avaliado, com média de 6,23. Isso lhe deu a honrosa 14ª posição no ranking dos 27 notabilizados pelo Datafolha.
Depois vem o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), com 5,45 de média; Ciro Gomes, do grande PSB, persegue o mineiro com média 5,41; aí então surge a pra lá de exposta dona Dilma Roucheffe da Casa Civil, com com nota 5,40; e afinal, na lanterna, aparece Marina Morena, a que se pintou de Verde, com 5,15.
Se você estiver de acordo com o Datafolha, a escalação do rol dos que até parece que não têm roupa nem ficha-suja para lavar ficou sendo a seguinte: Lula, William Bonner, Marcelo Rossi, Roberto Carlos, Ivete Sangalo, Silvio Santos, Zezé Di Camargo, Dunga, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gugu Liberato, José Luiz Datena, Ronaldo, José Serra, Hebe Camargo, Fausto Silva, Paulo Coelho, Xuxa, Aécio Neves, Ciro Gomes, Dilma Rousseff, Marina Silva, Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco, José Sarney, Edir Macedo e Fernando Collor.
RODAPÉ - Pobre país que ama e odeia essas figuras notáveis, tipo assim "pessoas não-comuns". Ainda bem que o Brasil é habitado por 27 personalidades e, apesar delas, por mais de 190 milhões de pessoas.
ENTRELINHAS - Eleição no Brasil é televisão.