Uma historinha sempre atual
Moisés Pereira
Porto Alegre
Neste país onde a corrupção cada vez mais se alastra e se constitui hoje em verdadeira epidemia nacional lembrei uma historinha que vivenciei bem de perto. Por sinal um episódio de corrupção que tal a sua dimensão parecia inocente, mas que verão no decorrer do texto era um embrião do que se transformou em um dos grandes escândalos do poder público do Rio Grande do Sul.
Há aproximadamente 20 anos o filho adolescente aproveitou o descuido do pai que deixara a chave na ignição do automóvel e saiu para dar uma “banda” no Bairro e afirmar-se perante os circunstantes. Não por acaso deu de cara duas quadras depois com outro veículo que inadvertidamente cortou sua frente provocando um acidente com danos materiais.
Chamada a autoridade do trânsito, a Brigada Militar na época, foi a carteira de motorista do pai apreendida, o garoto era de menor idade e o veículo guinchado.
O titular da Carteira compareceu ao Detran onde policiais civis fazendo uso com ênfase de sua autoridade repreenderam-no e orientaram sobre os caminhos que deveria seguir para resgatar a carteira, liberar o veículo e defender-se do processo que seria instalado.
Ainda angustiado com a dimensão do problema em que se envolvera o pai foi convidado a adentrar uma sala por outro policial da equipe onde em termos menos radicais conduziu um diálogo cordial e propôs encerrar o episódio Sugeriu um pagamento com três cédulas de um valor significativo a serem distribuídas aos componentes da equipe.
O convidado (corruptor) concordou com a falcatrua e teve sua carteira devolvida na hora, o carro liberado e a ocorrência “deletada”. Não era este o termo usado na época, mas hoje seria êste.
Até aqui não estou convidando novidade nenhuma. Que a polícia cuidando do trânsito era corrupta a maioria dos motoristas sempre soube, aqui, no Brasil todo, no Uruguai e até no Paraguai.
Lembro que no governo de Antônio Brito foi feita uma revolução no Detran. Era a época da privatização, àquela que ia resolver todos os problemas do país. E um novo modelo, pioneiro, e inovador otimizaria todos os procedimentos relativos as relações dos proprietários de veículos e motoristas.
O trânsito saiu da polícia e passou para os municípios que criaram Empresas para administrá-lo resultando em maior fiscalização e consequentes multas que, significativas atormentam os motoristas. Como ganhou este rigor, diz-se, fez diminuir os acidentes. As estatísticas não dizem isso nem tem condições de dizer o contrário com o grande número de veículos que transitam nos grandes centros urbanos.
No pacote desta revolução o Detran modernizou-se com uma infra estrutura “perfeita” para gerenciar os Centros de Formação de Condutores e Auto Escolas alem dos serviços inerentes, licenciamento, transferências, emplacamentos , etc.
Com isto ficou pouco espaço, ou nenhum, para os policiais mal remunerados praticarem aquela corrupção do varejo citada no início do texto.
E a novidade foi que aqueles atos isolados e diários de achaque foram sofisticados por executivos de colarinho branco que constituíram uma teia bem urdida envolvendo a Universidade de Santa Maria, fundações de fachada, e influências políticas de diversos escalões para subtraírem dos cofres públicos quarenta milhões de reais, dos contribuintes como gostam de dizer os neo liberais.
Bem, agora estou falando do escândalo do Detran que resultou em CPI na Assembléia gaúcha, depois de meritório trabalho da polícia federal, há aproximadamente dois anos. O processo está na justiça. Haverá punição aos culpados antes de outubro, ou o povo já terá esquecido e os reconduzirá aos cargos que conspurcaram. . .