5 de jan. de 2010

Cuidado com o Cupim, ou CPMF já!

O CUPIM E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Se não aparecer nenhuma excrescência legal até 2 de outubro, então está começando mesmo o último ano da Série Lula, O Filho do Brasil.

Se, no entanto, como acontece com naturalidade, surgir nas costas nacionais uma berruga como aquele cupim que nasce no lombo do boi zebu, pode apenas estar começando o ensaio da fita pornô Lula III.

Se for realmente o início do fim dessa novela de dois grandes e demorados capítulos, Lula do Brasil Da Silva deixará o poder, por algum tempo, amargando duas grandes frustrações: a primeira é não ter realizado o referendo popular que lhe daria o 3° mandato; a outra, o fim inexorável de sua grande paixão, a CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira.

Lula até hoje não dorme direito por causa dos pesadelos que têm com aquela fragorosa derrota atravessada na garganta. É o sapo que ele não consegue engolir.

Em homenagem ao mais popular, influente, confiável, bonito e simpático presidente da História do Brasil, propõe-se em regime de urgência, urgentíssima, a recriação do Imposto do Cheque. Só para dar uma grande e final alegria ao presidente.

Só para que ele não vá para casa ruminando essa mágoa de ter perdido uma parada grande para a medíocre oposição. Não é loucura. Nem delírio pela simples liberdade, liberdade! Há razões para isso: uma delas, mestre Lula não deixaria o governo frustrado; a outra, quando começasse a ter azia, já não seria mais presidente, apenas uma pessoa comum nessa República.

É que a CPMF renasceria agora como garantia de saúde para a liberdade de expressão; ressurgiria como atestado e receita para o jornalismo impresso e eletrônico, já que tudo que cai na rede web é peixe e não morre sufocado pelo poder dos patrões, súditos dos patrocinadores.

A CPMF – entendam a importância de seu utópico renascimento – é a tábua de salvação do jornalismo impresso em jornais e revistas, falado e mostrado em rádios, telinhas e telões. Nada mais que 0,1% dos cheques que rolam por aí seria destinado ao mundo da notícia que – internet fora dessa – chega ao inconsciente coletivo, formando opinião, com ares de grandes e incontestes fatores de transformações sociais.

O público, a sociedade, a nação seriam o breve contra a censura que o jornalismo sofre hoje a partir de suas redações, de suas reuniões de pauta, das salas dos donos dos jornais, das revistas, das emissoras de TV que – como empresas comerciais – não podem prescindir do lucro nem das vontades que seus patrocinadores determinam.

Na verdade, ditam. A liberdade de expressão é o jogo de cintura de repórteres, comentaristas, colunistas, chefes de reportagem, editores e editorias, que bailam na curva onde começa o desejo dos patrocinadores.

E ninguém tem mais charme e veneno do que o governo na hora de tirar pra dançar os proprietários de veículos de comunicação. Mais até do que veneno e charme, o governo tem a chave do cofre.

É o maior anunciante do país, em todos os mais baixos níveis da política e do “interesse nacional”: governos municipais, estaduais e federal. Tem dinheiro de sobra para fazer do noticiário a sua moeda de troca pelo que lhe importa, deseja e quer.

Patrocina consciências, pesquisas, dados, opiniões; cria paraísos a sua imagem e semelhança; compra simpatia, inaugura o que é apenas promessa; passa alhos por bugalhos; manda na isenção; influencia no emprego e desemprego de quem ouse cumprir a missão de fiscalizar, estudar e revelar a coisa pública como é a coisa pública.

E assim é que é assim com todas as melhores casas do ramo. No caso de Lula, não se guarda o menor rancor. A gente entende. Faz sentido. Ele tem azia quando lê jornais.

Seu refluxo, no entanto, permanece inalterado quando lê os AI-5 que edita à granja do torto e direita em forma de Medidas Provisórias, sempre em nome da democracia calamar que as burras públicas podem patrocinar como selo de garantia para as três falsas verdades do Estado do Brasil da Silva: liberdade de credo, de pensamento e de expressão.

Então, no caso de não haver nenhum cupim em formação por aí, para que Lula não esteja começando seu último ano de governo com a sensação de azia, má digestão e frustração com a derrota da CPMF doendo-lhe no peito como "uma facada nas costas", propõe-se aqui e agora em caráter de urgência, urgentíssima o ressurgimento glorioso do Imposto do Cheque.

Com ele, os filhos da pauta seriam os arautos tão somente do respeitável público, ansioso de saber a verdade, angustiado pelo prazer ler notícias sem ter engulhos. Arautos dos leitores e de ninguém mais.

E assim, enfim, o jornalismo opinativo com suas entrelinhas seria o soberano da verdade nua e crua, num país onde o rei não estaria nu. CPMF já! O povo pagaria esse imposto com prazer, só para poder escolher em quem acreditar.

Enquanto jornais, revistas e TVs forem casas comerciais de informação, não há esperança de vida para a verdade-verdadeira, nem para a liberdade de expressão. Então, CPMF já!

RODAPÉ - Fosse destro, o blog Liberdade de Expressão daria um dedo mindinho da mão esquerda se, com a nova CPMF, os institutos de pesquisa durassem um dia a mais na vida desse país revelando pesquisas sob encomenda de seus patrocinadores oficiais.