Notável esse conceito de "amplo direito de defesa" que corre frouxo e desgarrado pelo Brasil. Serve para de tudo um pouco: livrar a cara de corruptos, corruptores, pedófilos, seguranças, ladrões, políticos, lavadores de dinheiro, loteadores do céu, sanguessugas, vampiros, ministros, governantes, presidentes...
Só não vale para quem vende passarinho: é crime hediondo. Nem serve para quem furta pasta de dente nas gôndolas de supermercados: é coisa de pobre que "tá na merda" - como diz Mestre Lula aos seus apóstolos.
Dói ver a imprensa tratar assassinos frios, criminosos cruéis e quase tão desalmados quanto a absoluta maioria de deputados, senadores e seus padrinhos, como "supostos" criminosos. Daniel Dantas é "suposto"; Cesare Battisti é "suposto"; Agaciel Maia é "suposto"; Zé Dirceu e seus 40 mensaleiros, são "supostos"; Orlando Silva é "suposto" comprador de tapioca; Renan já foi "suposto", não é mais; Sarney e sua famiglia, são "supostos"; Beira-Collor é - como diria Aracy de Almeida - um suposto aquele que não resta menor dúvida; Jader Barbalho, de quem Lula beijou a mão, nunca foi "suposto"...
Então, esse segurança que outro dia matou o jovem diretor do grupo empresarial Europa na porta da padaria, tem todo o direito de ser chamado como "suposto" matador. E é assim que as manchetes o têm tratado.
Veja só o que esse conceito errôneo que serve, inclusive, para permitir que políticos com "ficha suja" sejam candidatos, faz com a consciência da nossa sociedade; veja o que esse "suposto" - parente consangüinolento da salvaguarda "salvo honrosas excessões" - faz com o nosso suposto inconsciente coletivo.
Leia parte da matéria, justamente onde o caso é contado, no texto do repórter Ricardo Pieralini - iG São Paulo:
Na madrugada de domingo passado, o empresário chegou à padaria Dona Deôla, em Higienópolis, acompanhado pela irmã. Ela teria discutido com o funcionário na semana passada. O empresário procurou a gerência da padaria para saber quais providências haviam sido tomadas após o ocorrido e, em seguida, começou a discutir com o funcionário.
Estudante de 20 anos, Natália se preparava para ir embora da padaria quando soube, segundo versão de testemunhas, por uma funcionária, que o homem com quem o empresário brigava portava uma faca.
Ao perguntar para este homem onde estava seu irmão, ele apontou para o empresário, que estava caído e sangrando. Levado ao Hospital Samaritano, ele não resistiu. O funcionário fugiu do local e se entregou à polícia na noite de quarta-feira.
Dácio Múcio de Souza Júnior era filho do empresário Dácio Múcio de Souza, fundador e presidente do grupo Europa, empresa fabricante de purificadores de água.
RODAPÉ - Somos todos reféns burros e amordaçados; algemados pelo jogo de cintura dos que sabem burlar a lei. Dói na alma ter que chamar de "supostos" os membros virís e erectos dessa pandilha de sevandijas. Mas assim é e assim será, enquanto os Poderes constituídos estiverem a serviço dessa laia. Laia, não; casta imune e impune. E ai de você que não se proteja covardemente sob a capa do vocábulo "suposto". Será imediatamente processado por injúria, calúnia, difamação. Com direito a ressarcimento por danos materiais. Que é o que eles mais gostam. E é disso também que eles vivem.
O AVESSO DA CENSURA
A Liberdade de Expressão é o avesso da censura.
O jornalista que se preza é um louco que tem a pretensão de escapar da censura. Sua loucura é tanta que não admite ser reprimido por ela.
É mais fácil mandar calar a verdade do que desmenti-la. De todos os poderes da sociedade, nenhum é tão indesejado pelos poderosos quanto a força que tem o jornalismo de colocar suas palavras nos ouvidos do povo.
Liberdade de expressão é aquilo que concluímos a respeito de qualquer coisa que vamos dizer aos outros sem precisar da opinião de qualquer outro.
Isenção é a frieza do jornalista diante do calor dos fatos.
Todo jornalista isento é, por caráter, mais que um autocensor, um omisso.
O poder do patrocínio que fortalece a edição é o mesmo que enfraquece o editor.