8 de set. de 2010

O Produto Nacional sem Imitações

Lula, indignado, apareceu na minisérie "Política Des/engraçada", interpretando - ao invés de presidente ou cabo eleitoral - o papel de sentinela da postulante Dilma. Pronto, tá tudo dominado! Os mocinhos viraram bandidos.

A quebra de sigilo fiscal dos tucanos é um golpe baixo e os mentores de mais um "banco de dados", vulgo dossiê, são os golpeados: "Um candidato dispara nas pesquisas e aí começam as acusações sem provas. Dilma está sofrendo agora o que eu já sofri no passado". Foi o que ele rouquejou nas salas brasileiras. Coitado, até ele - o Lula de todos os ingenuos brasileiros - é vítima, outra vez.

E, quando Lula é injustiçado, a postulante Dilma - por simbiose vegetal, pelo DNA animal, pela Lei de Gerson - é atingida também. Afinal, nem mesmo entes divinais como Lula e Dilma são de ferro; às vezes descem à Terra como se até seres humanos eles fossem.

É disso que o quadro clínico do Sanatório da Notícia está tratando. Sem medo de ser feliz, a equipe sanatorial já se prepara para ser diagnosticada e trespassada pelo bisturi implacável dos doutores de anedota e muita champanhota que atendem pelo nome de governo Lula.

Logo, todos nós aqui, seremos tidos e havidos como niilistas e, pela arte e manha do mais puro estilo petista de governar e politicar, carregaremos o fardo de sermos considerados homens que abandonaram todos os princípios e, quem sabe até execrados como tipos assim meio terroristas inconsequentes.

Mas, a verdade é que do jeito que a coisa vai, cada vez mais o diagnóstico emitido por este Sanatório atesta que, à medida que a máquina administrativa foi inchando, mais ficaram evidentes os sintomas de que o Estado lulático é tão nocivo quanto desnecessário. O Estado que aí está montado em cima dos homens de bem, é a fonte da maior parte dos nossos problemas sociais.

O Sanatório se recusa a aceitar sequer a idéia de que essa sociedade que o regime de Lula está repassando por um quatrenio para a sua companheira predileta, dona Dilma - a última flor do Lácio, se fortifique e frutifique. Essa sociedade lulática só é admissível para este nosocômio da notícia com a abolição do Estado poderoso e dominador.

Não há como aceitar essa forma de poder que vem de cima para baixo. O poder precisa tirar do papel o conceito de que todo poder emana do povo e em seu nome será exercido. Precisa transformar o dito em feito.

Assim como está e assim como tudo faz crer que continuará sendo desse outubro em diante, espalha pela alma brasileira o desequilíbrio entre destruição e construção; entre a liberdade e a ordem. Lei é para todos, menos para os amigos do rei e presideus dessa enorme Passárgada. Ordem é coisa que não progride em nenhuma faixa social que não dependa dos afagos do governo.

Bolas, o Brasil não é Passárgada e nem Lula é Manoel Bandeira. Assim como está e tudo faz crer que continuará sendo, não dá pra aguentar. Caramba, aqui não sou feliz! A gente pode viver bem melhor sem ser governado desse jeito. Quem não gosta do status quo está perdendo a chance de usar a mesma tática como contraveneno. Está mais do que na hora de trocar a hipócrita "estratégia da coalizão pela governabilidade", pela tática de mudança da sociedade por métodos coletivos.

Isso dito assim quer dizer, nem mais nem menos, do que um sindicato para cada sindicato; uma ONG para cada ONG; uma igreja para cada santo de último dia ou hora; um lenço pra cada choro; um movimento popular para cada partido de elite - PT, PMDB, PSDB, DEM, cacos de PDT, PTB, genéricos e similares.


O Brasil calmo e sereno, o Brasil consciente e politizado precisa de movimentos sociais e não de partidos políticos; não de organizações não-governamentais sustentadas pelos governos; não de igrejas-lavanderias; não de organismos estatais e paraestatias - reles e calhordas variantes do absolutismo.

Alguém precisa dizer para o povo - Lulas, Dilmas, Dirceus, Paloccis, Collors, Renans, Sarneys, estão fartos de saber disso - que esses organismos de defesa do cidadão estão putrefatos; padecem de um mal que apodrece a nação e contamina suas gerações.

O governo de Lula se apossou das artérias por onde deve correr o sangue da liberdade de um país; o governo é o criador do Estado poderoso que finge impulsionar a sociedade, enquanto apenas lhe dá substância e permanência nos próprios erros. Usa o Executivo, o Legislativo, o Judiciário para justificar sua democratura explícita.

Paulatina e dissimuladamente - hoje, já quase às escâncaras - o governo nos faz pensar e nos empurra a procurar o bem-estar e os nossos melhores sonhos e maiores anseios nas costas largas do Estado forte. E timidamente, nos acostumamos a aceitar as decisões do governo enganosamente simpático, mentirosamente democrático.

Esse Estado pós-Lula promete o que não pode e não sabe dar: igualdade e justiça, pela ordem. Na hora de fazer o bem, o governo nos joga na cara a liberdade como se ela fosse uma dádiva oficial que sai dos corredores do Palácio do Planalto; vai mais além, transforma em bolsas paternalistas o seu compromisso de garantir a justiça e a igualdade a um só tempo. É o jeito chantagista de fazer valer a sua autoridade. E assim põe o povo no bolso; amanhã, o povo será posto na bolsa.

O gigantismo do Estado é pesado demais para os ombros dos homens de paz aqui na Terra que acabam privados da liberdade de decidir sobre o seu presente e o seu próprio futuro. E, enganam-se os que pensam que é dos ricos que eles gostam de apequenar; os pobres, desprotegidos, descamisados e pés- descalços, são os que vivem mais intensamente as imposições do Estado paternal.

Lá se foi a hora de confrontar as grandes corporações que mandam e desmandam o trabalho, as comunicações, os organismos estatais, os tres poderes constituídos. Já é tempo de enfrentar cara à cara esses amos e senhores que nos dão ordens à distância e de estabelecer-se uma reforma urbana de consciência coletiva que permita ao povo, como nação, participar de toda e qualquer decisão que diga respeito à sociedade que ele constrói e em que ele vive.

Já passou da hora e do tempo do brasileiro se livrar da alienação social que lhe é imposta pelas gigantescas corporações que o levam ao mais triste e acomodado estado de fragmentação social. É esse Estado forte que Lula, Dilma e seus similares defendem que faz o Brasil ser uma democracia de vidro. Pois ela está em cacos. Come e dorme pela mão de uma autoridade que vive num paraíso político.

E já que o país tem um metalúrgico por presideus e está prestes a ter uma deusa trabalhadora incansável, criemos, pois - entre nós, nas nossas comunidades, com o vizinho ao lado, com os velhos amigos de infância - a nossa oficina política. Uma pequena fábrica de liberdade, igualdade, dignidade social. Ninguém pode avaliar melhor as necessidades da vida do que aqueles que as sentem na própria pele. Logo ela se transformará numa rede, numa franquia nacional. Nessas fábricas de consciência coletiva não se sentirá jamais a falta de qualquer máquina política.

E o grande produto dessa malha de felicidade geral da nação teria no rótulo, a marca mais desejada do Brasil e dos homens de bem: Democracia. Sem risco de imitações.