Na República dos Calamares, ninguém chega à Casa Civil impunemente. Zé Dirceu e Dilma estão aí pra não mentir e nem deixar mentir. Agora, Erenice Guerra a mais recente dona civil de casa,está mostrando que nem no nome ela é de boa paz.
Estava no bem-bom da dura lida do seu dia-a-dia caseiro quando, eis que de repente, não mais que de repente, vem a revista Veja e joga para o alto o lixo que vem sendo varrido para baixo do tapete. Isso deveria acabar com qualquer doméstica.
A menos, é claro, que se trate de uma serviçal que se dedique a guardar coisas do arco da velha no baú das miudezas. Coisas assim como fotos, gravações, currículos, diplomas, cuecas sujas, questionários juvenís do tempo do Epa; essas bugigangas corriqueiras que, ao fim e ao cabo de um boa vassourada se pareça com um dossiê, um banco de dados, com um alfarrábio desses que os subordinados acabam usando como escudo protetor contra os chefes, num caso extremo de quebra da "total confiança".
Escudo, é maneira de dizer. No jargão político-policial isso atende pelo nome de chantagem. Tem gente que é tão boa nessas varreduras que só consegue andar nesse tipo de vassoura. O que corre menos, avoa. Se essas "pessoas não comuns" tivessem que optar por um meio de locomoção para sua ascensão na vida, decerto escolheriam um aspirador de pó. É elétrico, pode ser plugado nas paredes oficiais e combate a poluição do ar de certas casas de Brasília.
Há os que se agarram aos cargos, como se tivessem tentáculos para proteger-se. Outros, nem tanto. Há quem não aguente uma boa nivem de pó. Perdem o cargo, mas não perdem a pose. É o caso do ínclito assessor da Casa Civil, Vinícius de Oliveira Castro. Ele pediu exoneração do cargo nesta segunda-feira. É inocente, até prova a favor. Caiu de livre e expontânea vontade. Pegou o boné no cabide que tinha na Casa, saiu porta afora, mas diz que "repudia" as acusações feitas pela revista Veja.
O indignado servidor se mandou porque foi um dos protagonistas daquilo que o governo Lula considera mais uma história de ficção da alvejante Veja. A revista o apontou como participante de um, digamos, suposto esquema para beneficiar empresas em contratos com o governo. É por isso que ele manifesta todo o seu repúdio.
Naquele elenco dos "outros nem tanto", a figura principal do enredo é Erenice Guerra, aquela que hoje Dilma trata como sua "antiga subordinada". Aquela mesma que - mostra a alvejante Veja - usou uma laranja para criar uma empresa com o filho, cujo nome prenuncia beligerância, Israel Guerra. Com ela, o latão é mais embaixo. Ela levanta poeira e diz que quer ser investigada por comissão de ética.
Isso, no Brasil da Silva, quer dizer o mesmo que foi dito na CPI da PTrobras. Isso, na República dos Calamares, quer dizer o mesmo que outro dia a postulante Dilma disse sobre a quebra de sigilo da filha, do genro, dos anzóis pereiras da familha Zé Serra: "é preciso apurar e ter calma". Marta faria melhor, relaxaria e gozaria.
Enquanto isso, há controvérsias pelos corredores da Casa Civil. Há quem diga e até jure de pés juntos que a irmã de Erenice, Maria Euriza Alves Carvalho, por acaso consultora jurídica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao mesmo Ministério das Minas e Energia - de onde um dia sairam Dilma e a própria Erenice - não deu aval para contrato nenhum sem licitação, firmado com a parentada.
Acontece que - está na Veja e já chegou à mídia retardada - no dia 1º de setembro de 2009, Maria Euriza autorizou a EPE a contratar, sem licitação, o escritório Trajano e Silva Advogados, com sede em Brasília, por um valor de R$ 80 mil. Dentre os advogados do escritório se encontra Antônio Alves Carvalho - imagine só que coincidência! - irmão de Maria Euriza e da ministra Erenice Guerra.
Disso tudo, o que se pode concluir é que a alvejante revista Veja está dando um tiro no pé. Ao realizar mais um pesado trabalho de jornalismo investigativo, acaba apenas mostrando o lixo sob o imenso tapete mágico da Casa aterrada no Palácio do Governo. Ele vai alçar voo e transformar mais um escândalo em milhões de votos. Com pandilhas de sevandijas é assim: quem não corre avoa!