26 de set. de 2010

Liberdade a Tesoura

Para nosso correspondente para pautas libertárias, o Garanhão de Pelotas, um bom domingo começa sempre com uma certa sensação de liberdade...


Liberdade de credo, aquela que permite até ir à missa das dez, ainda que você não seja candidato a nada, apenas almeje um cantinho do céu que lhe prometem;

Liberdade de pensamento, aquela liberdade que não se tem como um luxo, porque é uma liberdade permitida a todos, de todas as raças, de todas as classes, de todas as estaturas humanas, morais ou absolutamente políticas.

Liberdade de expressão é a liberdade que permite dar asas, visibilidade e conhecimento ao pensamento que não conhece opressores.

A primeira liberdade, a de credo, só está ameaçada hoje no Brasil pelo excesso de liberalidade. Você crê em tudo: em Deus, no diabo, nos pastores, nos edificadores de igrejas em cada esquina, nos governantes vendedores de ilusão. É uma liberdade que peca pela opressão das almas singelas e crédulas.

A segunda liberdade, a de pensamento, é aquela que vive onde não há lei de nenhuma classe, onde não há hierarquia, não há amos nem senhores, não há patrão. É uma cadeia universal - Epa! Sem bispos no meio! - que não comporta prisão.

A terceira liberdade, a de expressão, é a mais falsa das tres verdades que alimentam a enganadora democracia brasileira. Ela passou a viver sob a ameaça da volta da censura. O perigo vem de cima para baixo.

O governo descobriu que o povo gosta de ser governado. De instrução tacanha, propositalmente, tosca, rude e escassa, a base da pirâmide social brasileira tem o espírito barato e poucas migalhas lhe bastam para idolatrar seus benfeitores. Mal se dá conta de que a bolsa-famiglia, está muito menos para a bolsa Kelly da madame do que para a corriqueira expressão "a bolsa, ou a vida!" do seu cotidiano.

Nessa democracia a liberdade de expressão se encaminha, a passo largos, para pertencer apenas ao governo, seus porta-vozes e suas corporativistas circunstâncias. Vem aí, sem indícios de tardança, o "controle social da informação". E eles tem corrida.

O detalhe aí nesse eufemismo barato é o "social", porque o oficial já se sente na pele. O controle oficial, disfarçado de social, é o que cria monstrengos como a Rede Brasil de Comunicação, malha de ofícios, releases, bilhetinho às redações; monstrengos como o Conselho Nacional de Comunicação, tocado por Franklin Martins - o que saltita licitações para garantir plano de aceleração de crescimento do futuro de Cláudio, por acaso, Martins e, sem embargo, seu filho também.

O oficial é o que impõe censura velada aos planos de mídia, de marketing, de publicidade e propaganda, cuja chave só abre a arca do tesouro nacional para veículos de comunicação companheiros bons e batutas - rádios, jornais, redes de TV e revistas apaniguadas.

A chave de braço com alguns desafiantes rebeldes que ousam editar verdades que provocam azia, é vencida pela chave de fenda no cofre público que, com o jeitinho brasileiro de fazer chantagem, convence-os a dizer, escrever e mostrar o que o governo gosta de escutar, de ler e de assistir. Mais que fazer do governo o Sal da Terra, faz do jornalismo o Sal de Fruta Eno dos que comandam a massa e balançam a pança. Adeus queimação no esôfago.

O governo que nos impõe esse tipo de democracia, acha de sã consciência, que a nação está constituída de tal maneira que ele pode dar liberdade a uns e tirá-la de outros. Isso é próprio de um sistema em que a corrupção é o mais infalível instrumento da libertinagem constitucional. E assim será sempre mais fácil impor silêncio ao erro do que mostrar a verdade.

Até as eleições, ficamos assim. Depois - como já disse outro dia a nova dona Solange - "são outros 500!"... A musa da tesoura vem aí. É o prenúncio da democracia fashion - aquela que traz o corte de aparência impecável para uma liberdade sem ideais, mais daninha do que proveitosa.

Mas, enquanto houver capacidade de pensamento, nessa temporada de "controle social" que se avizinha, nosso correspondente para pautas libertárias, o Garanhão de Pelotas vai passar a viver a instigante expectativa de sair em busca das liberdades perdidas.

RODAPÉ - Alimentos que podem causar azia: Café, chá, refrigerantes tipo cola e cafeinados, álcool, chocolate, tomate e molho de tomate, alimentos apimentados e gordurosos, hortelã, frutas cítricas e, a gente está descobrindo, alguns frutos do mar...