22 de set. de 2010

Há algo de Podre na República dos Calamares

Manifesto em defesa da democracia

Algo de muito sério contra a democracia foi finalmente percebido por quem pensa no Brasil. O cheiro é fétido. O ranço está se tornando insuportável. Há algo de podre na República dos Calamares. Mas, enquanto Lula tem azia crônica contra a liberdade de expressão, contra quem não pensa como ele, contra quem não escreve ou diz o que ele quer que se escreva ou diga, um grupo de personalidades republicanas - intelectuais, juristas, artistas - iniciam um movimento de baixo para cima, a começar com o que entitularam como "Manifesto em Defesa da Democracia". O objetivo, avisa o grupo, "é brecar a marcha para o autoritarismo".

A crise de azia de Lula é, fundamentalmente, provocada pelas notícias que detonaram a farra e a parte da banda bandalha da famiglia Guerra que agia na Casa Civil da Presidência da República, estarrada logo acima do seu gabinete no Palácio do Planalto.

Dentre os que assinam o manifesto estão o jurista Hélio Bicudo, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso, os cientistas políticos Leôncio Martins Rodrigues, José Arthur Gianotti, José Álvaro Moisés e Lourdes Sola, o poeta Ferreira Gullar, dom Paulo Evaristo Arns, os historiadores Marco Antonio Villa e Bóris Fausto, o embaixador Celso Lafer, os atores Carlos Vereza e Mauro Mendonça e a atriz Rosamaria Murtinho.

Leia, pois o documento foi escrito especialmente para você que sabe ler nesse país:

Manifesto em Defesa da Democracia

# Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano.

# Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.

# Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.

# É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.

# É inaceitável que a militância partidária tenha convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.

# É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.

# É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.

# É constrangedor que o Presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há "depois do expediente" para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no "outro" um adversário que deve ser vencido segundo regras da Democracia, mas um inimigo que tem de ser eliminado.

# É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.

# É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.

# É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.

# Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para rasgar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.

# Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade:

# Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos.

RODAPÉ - É incrível que 46 anos depois da Redentora de 1964 surja diante da nação brasileira um tirano à moda Getúlio - O Simpático Ditador, com o poder de oratória de Hitler, a alma de Mussolini, a raposice de Fidel e o histrionismo tacanho de Hugo Chávez. Que esse manifesto seja o início de um movimento para acabar com a paixão de um déspota pelas novas donas Solanges - musas atuais da tesoura.