Zé Serra mirou no que viu e acertou no que não viu: "Lula só tem uma chance de ser candidato de novo: se eu ganhar. Se a Dilma ganhar, Lula não se elege deputado"... O tucano calibrou o bodoque - arma temida pela fauna política - na galinhagem aquela de Paulo Maluf com Celso Pitta.
E, enquanto se apoiava nisso para disparar a pedrada, Serra justificou a posição de ataque indagando em forma de resposta: "O que aconteceu com o Maluf em São Paulo? Ninguém sabia quem era o Pitta. Ele elegeu. O que aconteceu?"... Esticou o elástico do estilingue e disparou: "Só falta o Lula dizer: não votem em mim se a Dilma não governar bem."
O arremesso do tucano foi na direção do que ele considera a visível incapacidade administrativa de Dilma e no rumo da mosca do alvo governamental, a notória irresponsabilidade do governo do PT que, Serra tem certeza, deixará uma das piores heranças para quem chegar o Palácio no próximo mandato.
Tiro certo? Quê nada, acertou só no que viu. O que não viu está mais vivo e esperto do que nunca. Por pouco tempo, é verdade, mas o suficiente para que Lula consiga que o Brasil tenha Dilmalá.
O que Serra não mirou, foi o tamanho do ego do criador e da sua criatura, além do visível olho-grosso do PMDB por bocas-ricas estatais e da fome e da sede de poder do triunvirato que vem por aí.
Estilingadas à parte, de janeiro pra lá, tudo pode ser assim: Dilma senta na cadeira de Lula; gosta. Lula vê Dilma em sua cadeira; não gosta. Michel Temer, olha de banda; não gosta, nem desgosta. Por isso mesmo quer mais; sempre mais...
E, simples assim, Dilma conviverá com os cutucões de Temer por baixo dos panos e o bafo permanente de Lula na nuca, querendo voltar sem nunca ter deixado a cadeira que tem como dele... Dilma não será a primeira-presidenta do Brasil. Será a primeira-Dona Flor e seus dois maridos do Palácio do Planalto.
A atiradeira de Zé Serra acabou acertando a pedrada. A forquilha lançou o projétil naquilo que é pra lá de nítido não só na alça de mira de um bodoque, mas é visto por Zé Serra e mais de 130 milhões de eleitores no Brasil: "Se Dilma ganhar, Lula não se elege deputado".
RODAPÉ - A arma escolhida pelo tucano para esse duelo ao sol foi o estilingue, vulgo bodoque e atiradeira, porque tem certa similaridade com a funda, inocente objeto de brincadeira que Davi usou como artefato bélico para derrotar o gigante Golias. Faz sentido. Pelo menos, está na Bíblia.