11 de fev. de 2010

Brasil sem sobrenome

Toda vez que me deparo com o poste iluminado às bordas de um palanque tenho a nítida impressão de que estão soltando os bichos que ficam à sombra do presideus. E sinto que os demônios se soltam:

Asmodeus despeja sua luxúria sobre nós, pobres e ingênuos castos da política que nos estupra;
Belzebu, com toda a sua gula, coloca migalhas no nosso prato cheio de temperança;
O diabo do Mammon joga sua ganância tirando proveito da generosidade brasileira;
Belphegor, o preguiçoso, se debruça em cada andaime de obra inaugurada sobre a pedra fundamental da credulidade popular;
Azazel despeja sua em cima de cada pessoa comum que tenha o desplante não pensar como querem que a gente pense;
Lucifer borrifa seu orgulho em cada riso plástico, em cada palavra áspera, em cada gesto prepotente e soberbo que respingam sobre a nossa humildade, nossa modéstia;
Leviatã manifesta sua inveja, diante de qualquer FHC ou Barack Obama que tenha a ousadia de se mostrar mais caridoso do que o padrão da história oficial que o governo caboclo nos conta.

Os palanques me provocam essa sensação. E me animam a querer que o Brasil brasileiro se liberte das mazelas do Brasil Da Silva; que a moral de cada um de nós seja mais forte do que a étitica dos governantes que temos tido... E temos... E que, depois de outubro, ainda teremos.

Os palanques endemoniados me animam a querer que a generosidade, acabe com a avareza; que a diligência, a presteza, liqüidem com a preguiça; que a paciência e a temperança, ponham fim à raiva e à ira; que a caridade termine de uma vez por todas com a inveja, com o ciúme político; que a humildade vença a soberba, a prepotência; que a verdade reine sobre a mentira.

Esses espetáculos circenses que palanqueiras e palanqueiros proporcionam a esse, ainda, meu país me animam e me fazem acreditar que o Brasil não tem nenhum defeito que por suas próprias virtudes não possa consertar.

Os palanques, as promessas, os sete pecados capitais cometidos à granel, me dão a certeza de que o Brasil Da Silva tem cura. Precisa apenas exorcizar o sobrenome.

Se, depois de outubro, minha pátria ainda tiver codinome, me mando para outras bandas aqui por perto, aqui pelas fronteiras. Desde que não falem com o sotaque e nem tenham os cacoetes de Evos, Cristinas, Chávez, Lulas e outros frutos do mar e do mal.

Se não der certo, não me exilarei na Sorbonne, não dançarei boleros em Havana e nem tampouco serei traíra no Araguaia - que isso é coisa para a geração de FHCs, Zés Dirceus e do Zé Papagaio genuinamente nacional. Necessariamente nessa ordem.