8 de mar. de 2010

Hospital, Pão e Circo

O sempre inconveniente Sérgio Cabral aproveitou o domingo no Rio de Janeiro para mostrar a verdadeira face do desespero de Dilma Roucheffe-da Casa Civil e do governo à cata de uma vitrine, qualquer vitrine.

Com a desculpa esfarrapada de celebrar o Dia da Mulher - que não era ontem é hoje - a candidata do presiDeus foi a São João do Meriti, na Baixada Fluminense, inaugurar mais uma obra que não está terminada.

Dessa vez foi o Hospital da Mulher Heloneida Stuart que, apesar da benção da discípula predileta do mestre dos mestres, só vai entrar em funcionamento - segundo mais uma promessa - daqui a três ou quatro semanas. É como se fosse tipicamente uma obra de um desses PACs que rolam por aí. A pedra fundamental é sempre tão pesada que as construções não se movem.

Se o governo fosse sério, se o governador do Rio fosse mais sério e menos divertido, Dilma não teria saído de casa para se apresentar numa festa em que ela nada tinha a ver com o bolo: a obra do hospital está sendo realizada sem um prostituto centavo federal.

Dilma Roucheffe não tem nada a ver com o hospital e, mesmo que as burras públicas tivessem derramado parte de suas moedas naquele nosocômio (!), Dilma não teria bulhufas com a coisa, pois não é médica, nem enfermeira; muito menos engenheira ou arquiteta de obras inacabadas. É só candidata do Palácio ao Palácio.

Dilma não perdeu a ocasião de aumentar seu característico grau de grosseria e de distância para com os eleitores. Querendo ser simpática com as mulheres foi estúpida com os homens. De sua boca cheia de dentes saiu esta gloriosa mensagem feminista:

- Além de sensíveis, as mulheres são sensatas e práticas. A gente não faz besteiras facilmente até porque temos responsabilidades com nossos filhos, e para botar comida na mesa. Somos fortes, a gente aguenta dor, não fugimos da luta.

Quer dizer, pela falastrada da velha guerreira os homens não são sensatos nem práticos; são bestas, não têm responsabilidade com os filhos e nem sequer para "botar comida na mesa". Na sua mensagem de saia justa está implícito também que os homens são fracos, não aguentam dor e fogem da luta.

O tom de voz da ungida do presiDeus suplantou, tonitruante, o carro de som que pedia votos para ela, enquanto a velha guerreira sacudia a pança e comandava a massa que mitigava o enfado, a sede e a fome com sanduíches, refrescolas e coisas quetais, distribuídos como se fossem brioches à plebe. Só faltou bacalhau.

Os cinco ministros do governo federal, dezenas de deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores que presenciavam o espetáculo engoliram os vitupérios feministas e discriminatórios contra a dignidade dos homens, como se já estivessem acostumados com isso.

De sua parte, Dilma Roucheffe deveria ter mais consideração com hospitais. Sua experiência recente deveria ter-lhe ensinado que seu uso é emergencial. Sua sala de espera jamais deveria ser usada como palanque; sua fachada não deveria ter nada a ver com vitrine política.

Hospital, ainda que o seja Hospital da Mulher, não é butique eleitoral e quando ainda nem começou a funcionar, aí então sequer é capaz de atender pacientes de quaisquer categorias, sejam elas portadoras de gravidez ou de desfunções linfáticas.

Assim, inaugurado mesmo que inacabado, desclassifica-se como casa de saúde para ser uma casa de espetáculo, de cujo picadeiro se dá ao povo o que seus artistas mambembes acham que ele mais gosta: pão e circo.