Era uma vez... Um molusco marinho que, fora do seu habitat natural, foi parar – nem se sabe muito bem, como - numa fábrica.
Com seus oito braços, não foi capaz de cuidar direito de um dos tentáculos. Mas, tinha cabeça distinta, simetria bilateral e ventosas nos oito membros envolventes – como todos os cefalópodes.
Sonhava, desde cedo, quando deixou suas origens de fruto do mar, em se transformar assim que tivesse oportunidade, num Architeuthis dux, mais conhecido por Lula-Gigante.
E o sonho foi se tornando, a pouco e pouco, realidade. Foi capturando alimentos – que seis dos seus tentáculos e ventosas se prestam para isso – e treinando reprodução com os dois outros, digamos, braços.
Cheio de cromatóforos na pele, o molusco se acostumou a mudanças de cor de acordo com o ambiente em que se encontrava e conforme lhe era conveniente. É o que o vulgo não sabe chamar de capacidade mimetizante.
O pequeno polvo virou especialista em mimetismo. Nuncanessepaís alguém ou algo mimetizou tanto. Mas não ficou apenas por aí. O polvinho jamais abandonou o projeto de um dia ser um Architeuthis dux.
Para tanto, o alienígena provido de uma espécie de concha interna, moveu-se à base de propulsão, ejetando grandes quantidades de dissimulação armazenada na tal concha com jeito de manto sagrado. É como se tivesse um sifão de enorme mira e precisão que direcionava seus jatos.
Tanto fez e tanto praticou, atingindo sempre quem queria e o que queria, que ficou mais forte do que os seus rivais. Sua boca é a parte mais potente do corpo. Ela tritura os mais duros argumentos contrários como se fossem pluma. E que, volta e meia, joga pelo ar.
É pela boca e não pelas guelras que esse molusco que saiu do mar para ocupar as terras brasileiras respira e alimenta seu sistema circulatório que bombeia seus três corações: o principal que fica à mostra e outros dois auxiliares que tratam do resto. Esses dois são chamados pelos mais íntimos de Poste e Top-Top.
É um animal essencialmente carnívoro. Tritura com seus tentáculos os vertebrados. E assim cresceu e está chegando à fase mais sonhada. Já é quase um Architheuthis dux.
Falta só terminar seu ciclo aqui pelo continente. Logo depois, como manda sua inquietude, fará como era no início, agora e sempre: deixará esse habitat para instalar-se no grande aquário do mundo: a ONU.
Em seguida sonhará mais alto. O cefalópodo que adotou o Brasil como seu, um dia será reconhecido como o maior invertebrado do mundo.