1 de nov. de 2010

Estagiário Escrachinado

Pois, acadêmico de Direito desde criancinha, o Garanhão de Pelotas repassa aqui, o fato que se deu em Brasília, no prédio do Superior Tribunal de Justiça, transformado num tremendo barraco. A coisa tem tudo a ver com a cultura da truculência desses dias de bolinhas de papel, carretéis de fita durex, saquinhos de líquido misterioso que são desdenhados pelo presidente da República que apenas recomenda o uso de um proverbial capacete, ou coisa que o valha. Eis o repasse da barafunda.

Em pleno 19 desse outubro ou nada, Ari Pargendler teve um Dia de Fúria. Presidente do Superior Tribunal de Justiça, desde o memorável 3 de agosto último, ele reuniu a arrogância que lhe cabe no ego despreparado para ser superior, e detonou em cima de Marco Paulo dos Santos, 24 anos, um estagiário do curso de administração na Coordenadoria de Pagamento do STJ - corte sob a direção do douto magistrado.

O furioso destemperou-se porque Marco estava imediatamente atrás de ninguém mais, ninguém menos do que do honrado presidente do Tribunal no momento solene em que o ministro usava um caixa rápido, localizado na Corte.

A histeria do presidente do STJ ocorreu quando ele fazia uma transação em uma das máquinas do Banco do Brasil. Naquele instante, o estagiário se encaminhou para outro caixa - próximo de Pargendler - a fim de depositar um cheque de uma colega de trabalho.

Ao dar de cara com uma mensagem de erro na tela da máquina, o rapaz foi informado por um funcionário da agência que o único caixa disponível para depósito era exatamente aquele que o ministro estava usando.

Teve então a audácia de se dirigir até a linha marcada no chão, atrás do poderoso ministro, local indicado para o próximo cliente.

Incomodado com a proximidade daquela reles "pessoa não comum", Ari Pargendler teria vociferado: “Você quer sair daqui porque estou fazendo uma transação pessoal."

Marco, o estagiário intransigente ousou tergiversar: “Mas estou atrás da linha de espera”.

Foi demais para o espírito da lei do mais forte: “Sai daqui. Vai fazer o que você tem quer fazer em outro lugar”.

Segundo testemunhas, Marco - o Instigante, tentou explicar ao ministro que aquele ali era o único caixa para depósito disponível e que por isso aguardaria no local.

Aí, transbordou... O juiz perdeu o juizo e jogou água fora da bacia: “Sou Ari Pargendler, presidente do STJ, e você está demitido, está fora daqui”. Até então o garoto não sabia com quem estava falando.

Uma estudante de Direito do Instituto de Educação Superior de Brasília, assistiu horrorizada ao destempero do ministro: “Ele ficou olhando para o lado e para o outro e começou a gritar com o rapaz. Avançou sobre ele gritando , 'Você já era! Você já era! Você já era!', enquanto puxava diversas vezes o crachá que ele tinha no pescoço". Fabiane Cadete, a academica, ainda acresentou: “Fiquei horrorizada. Foi uma violência gratuita”. Ela concluiu dizendo que quando o ministro partiu para cima de Marco disposto a arrancar seu crachá, ele não reagiu. “O menino ficou parado, não teve reação nenhuma”.

Uma hora apenas depois do deprimente episódio, a carta de dispensa estava em cima da mesa do chefe do setor onde o atrevido e petulante jovem trabalhava.

O barraco foi registrado na 5a delegacia da Polícia Civil do Distrito Federal às 21h05 do dia seguinte, quinta-feira (20). O boletim de ocorrência tem como motivo “injúria real”. Ele é assinado pelo delegado Laércio Rossetto. O ministro tem direito a foro privilegiado.

Pargendler tem 63 anos, é macho de Passo Fundo e está no tribunal desde 1995. Foi também ministro do Tribunal Superior Eleitoral. Não aprendeu nada. Nem sequer aprendeu a envelhecer.
Ari Pargendler é 10. O outro é Ricardo Teixeira. Mas não é recomendável ficar atrás de nenhum dos dois em qualquer fila de banco.


RODAPÉ - O Garanhão de Pelotas - dócil por natureza e briguento por vocação, levanta algumas questões de foro íntimo que não consegue segurar: Será que essa "pessoa não comum" usa cueca? Será que senta no vaso sanitário alguma vez por dia, ou não precisa - nem do vaso nem da cueca - porque a bosta sobe pra cabeça? Vai ver, desde que virou ministro, come desodorante e bebe perfume. No dia que bater as botas vai ter que esperar para passar por São Pedro, porque o rei que ele tem na barriga vai saltar na frente e tomar o seu lugar na fila de entrada. O pavão vai querer arrancar o crachá de São Pedro e demiti-lo. Só então vai ver que por lá, não vale carteiraço. Na melhor das hipóteses vai tirar uma temporada no purgatório. E tomara que, um bom tempo depois, não erre o caminho e acabe metendo bronca com o diabo. Quem sabe até se não pega o lugar do capeta?!? Depois leva uma bolada de papel na cabeça e nem se dá conta de que essas coisas acontecem num país em que o presidente dá risada e incita a truculência. Na próxima visita ao terminal do banco, melhor seguir o conselho de Lula: botar um capacete.